sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Introdução do meu novo livro Misticismo Decodificado

O silêncio dorme para esquecer aquilo que um opaco véu ciumentamente encobre. Para quê? Para que verdades terrenas e universais fiquem para sempre no cofre dos segredos? Ele parece proteger inocências e tragédias, identificando-nos a cruzes ensanguentadas. Toneladas de rosas dormem com o silêncio, esquecendo as pétalas e mostrando apenas os espinhos. Porém, para quem tem os sentidos aguçados, um perfume inconfundível fala de outras realidades, de rosas multicores e de vivências simples, preenchidas e realizadas.

Olho o universo com fitas métricas nas íris. Um de infinitamente tantos. Penso em trilhões de galáxias. Uma delas, a Via Láctea, com outras tantas estrelas. Vejo-me neste canto sombrio de uma de suas hélices, banhada pela estrela a que chamo sol. Revejo um pequeno planeta azul, não mais do que um grão de poeira que roda na imensidão do despropósito. Continuo pensando extasiada que sou parte deste visível e invisível que me rodeia. Penso nos milhões de quilômetros que faço a cada hora sentada nesta cadeira. Penso nos meus companheiros de viagem, a Humanidade, minha mãe e minha filha. Sofro com ela, confundida entre bem e mal ou entre deuses e demônios, apenas produto de uma cultura que nos estrangulou a imaginação.

Daqui, neste jardim tão ínfimo quanto eu, olho o céu azul e me vejo desproporcionalmente pequena. Isso, porque se a minha mente tem capacidade para imaginar esse Universo, não será que por isso mesmo ela é tão grande quanto ele? O que há em mim que me liga a tudo, que me leva a imaginar o que não me foi ensinado e a compreender a minha responsabilidade com esse mesmo Todo? Se sou existo e se existo tenho um objetivo maior do que a minha compreensão. Sei ou sinto que sou parte de um Grande Plano e que a minha vida tem sentido, mesmo que eu morra sem entender a sua dimensão.

No absurdo do nada encontro este meu ser que se recusa a esta exígua extensão, mas que assim mesmo tem tanta capacidade e perfeição. Todo o mecanismo deste organismo, toda a ânsia desta mente, toda a vontade desta fibra que me ligam a um Todo tão absoluto como relativo, me levam a acreditar que sou um microcosmo à imagem do macrocosmo, em toda a sua totalidade. Deixo de ser tímida. Dou início a uma formidável procura, enquanto coloco as asas da certeza na conquista de alguma Verdade. Sei que o importante não é saber todos os segredos. Apenas alguns. Aqueles que me tornam um ser humano digno do que sou. Também não é importante saber por saber, mas afunilar o que sei para a coerência desensinada do que em mim transborda num imenso desejo de participação. Enquanto guerreira me permito tentar destruir doutrinas vazias e malfeitoras, mesmo que algozes tentem assassinar as minhas mãos, a minha língua, a minha vontade.

Em mim há constelações, habitados planetas, galáxias, universos paralelos e simples estrelas cadentes nos destroços do meteoro que me encandeou no caminho do meu sol. Quero usar esse universo pessoal para encontrar a resposta à pergunta universal: quem sou? Para que existo? Qual a finalidade de tudo isto?

Revejo a História e filosofias que me foram ensinadas, prisioneiras de um cubo de dogmas imutáveis onde horizontes e outras possibilidades definhavam em águas estagnadas. Todavia, dentro do sonho desejoso de Verdade, encontro a outra, a proibida. Fundações modificadas pelos opressores, os quais escondem realidades onde a capacidade humana é pecadora e condenável, para que eu nunca saiba quem sou e assim me humilhe a deuses e homens que caminham entre exércitos genocidas a bem de uma paz que não procuram. A matéria deixou de transitar entre o espírito, tornando-se cada vez mais densa e perdida em subterrâneos cheios de minotauros e sem propósito. Se a própria galáxia tem um caminho definido como poderei eu apenas existir para me perder no labirinto em que a vida não vai além do absurdo?

Vivificando todo este realismo poético, termino por lembrar discussões imensas, intermináveis, inflamadas, de tanta gente preocupada com a existência de deuses. Alguns perguntavam, “Jamais algo te provou que deus existe?” Tanto tempo perdido com insignificâncias... Que importa se deuses existem? Quando pareço estar perto da essência divina apenas sinto. É inexplicável, improvável e sem definição. E se não existissem? Seria o meu objetivo diferente? Seria a minha atitude menos medrosa e por isso menos responsável? Seria eu mais ou menos verdadeira? O importante não é saber se deuses existem, mas a minha atitude perante mim mesma, os outros e o infinito, o qual é tão parte de mim como eu sou parte dele. Jamais poderei colocá-lo na caixa das coisas perdidas ou sem importância. É a esse infinito que a minha mente ergue um altar que enfeita um longo corredor cheio de portas e sem muros. É percorrendo esse caminho que trilhões de probabilidades afloram, tornando-me capaz de ir além do intelecto. Estou armada de olhos e percepções capazes de transformar-se em horizontes jamais imaginados. Na procura do esquecido ou na luta para desvendar o segredo que durante tanto tempo esteve guardado por milhares de dagrões, me entrego a um exercício místico que me guia na procura do que sou e do que posso vir a ser.

Tudo muda

Os que nunca mudam pensam que o mundo
'e como eles.
Nem podem imaginar mudancas f'isicas.
Como se enganam...
Muito menos
intelectuais ou espirituais.
Seu c'erebro ficou preso na mesmice que criticam.