sábado, 11 de setembro de 2010

Debate da Internet II

Vidal,

Com os seus últimos e-mails isto deixou de ser debate, além de que por mim já estava encerrado. Num debate ninguém se impõe como o senhor do Conhecimento. Como Sócrates, eu sei que nada sei, mas sei algo sobre amor ao ser humano e é esse que eu gostaria de ver LIVRE. Porém, para sermos livres nao podemos ser ignorantes nem tampouco deixar que outros pensem por nós. Livre arbítrio é ser infinitamente independente e capaz de por um amor verdadeiro entregar-nos total e livremente. Através dos meus livros entrego-me ao mundo, nao se nota tanto porque a inquisiçao já era... (???)

Porém, há um SÓ ponto que tenho a contestar:
Suas palavras: “seu texto não serve para análise política”.

Vidal, eu vivi, fiz e bebi política desde tenra idade. Tive os melhores professores de politica, paguei os meus tributos políticos e disse o que tinha a dizer publicamente no tempo do salazarismo. Venho de uma linhagem de políticos. A grande diferença é que hoje, devido ao muito que aprendi, principalmente do lado humano, eu me dedico AINDA a fazer política, mas de uma maneira que vai muito além do micromundinho. O que escrevo prova tudo isso, principalmente no meu livro Testiculos Habet... e no que terminei de publicar. Lutar pela liberdade da mulher é política no seu mais alto grau. Até aqui só metade da população mundial tem tomado decisões políticas, economicas, filosóficas e até artisticas. Porque a outra tinha de render-se aos conceitos do marido, do pai e do irmão. A mulher votava segundo o que o marido dissesse, quando votava, e ele votava segundo o seu patrão ou guia religioso. Não sou feminista, sou muito mais do que isso. Não é política?

Eu não acredito em mudar moscas que voam sobre estercos cada vez mais nauseabundos. Eu quero um mundo bem cheiroso e isso só se consegue quando os indivíduos pensam por si mesmos, são conscienciosos, politisados e teem Grandes Ideais – ideais além de si mesmos e seus mesquinhos egos. Partidos políticos, candidatos, etc, sempre sao manipulados e manipulam interesses puramente financeiros. Desde a lampada que nos ilumina até ao oval office tudo é interesse financeiro. Se nao o for é porque a demência, como o fascismo, leva o interesse financeiro ao outro nível, desejo de poder o qual é implementado à custa da dignidade e da vida dos povos, o que tem inebriado muitos chefes de estado, como Stalin – referindo-me ao seu link. Hitler foi nada comparado. Um matou 6 milhões o outro 60 milhões.

Política, aquela que não passa da garganta dos que fugiriam e delatariam os companheiros se vissem a polícia de choque na sua “aldeia”, nao passa de uma bengala para os que não teem nada a identificar-se. Há quem se identifique a idéias, títulos, etc e outros que o fazem a coisas externas, das quais pretendem apoderar-se para esconder o fato de não terem os seus próprios méritos. Esses são os que não pensam e teimam em não ver mais longe do que que as quatro paredes onde se encerram nos momentos em que vagam nos labirintos de almas vazias e atordoadas pelo remorso de não terem vivido uma vida verdadeira.

Agora, só para lhe dar um exemplo da linhagem política de onde venho e usando termos literalmente fora da dialética da dita cuja esquerda, a qual abomino – talvez porque nos tempos em que a usava tinha noites em que, perdida no meu labirinto negro, dava-me conta de que não passava de um papagaio...

Do lado paterno venho de uma família muito abastada e muito lúcida. (coisa rara) O meu avô nunca trabalhou e falava dos outros dizendo “o povo". Imagine-se... Além de já ter uma grande fortuna, no tempo da primeira guerra mundial ele ficou ainda mais rico com o comércio de volfrâmio. Apesar de tudo isso, ele queria viver num pais onde todos tivessem dignidade e fez muita política, primeiro contra a monarquia, pela república, e depois contra o governo de Salazar. O meu pai tinha um cassino em Angola, o qual administrava seis meses por ano, nos outros vivia em Lisboa vivendo dos rendimentos. Nao houve nada, absolutamente nada, que eu desejasse que nao viesse cair no meu colo imediatamente. PORÉM, CONTUDO, TODAVIA... o meu pai e seu irmão, tio Artur, também meu padrinho, eram contra toda a politica portuguesa e principalmente contra as terríveis condiçoes em que o povo angolano vivia. Foram eles e outros tres homens, tambem portugueses, que compraram com o seu próprio dinheiro, muitas armas para os angolanos, antes da guerra pela independência ter início. Esta história nunca foi pública. Passou a ser...

Você lembra do Humberto Delgado? Para avivar a memória: lembra do Santa Maria? Do Galvão que sequestrou o Santa Maria no meio do Atlântico? Pois o meu pai fez – NO TEMPO De SALAZAR – campanha politica pelo Humberto Delgado. Ele, que odiava andar de aviao, subia numa avionete (era o nome dos “jatinhos” daquele tempo) e deitava milhares de panfletos políticos – sobre Portugal inteiro.

Numa altura em que meu pai estava em Lisboa, contra toda a sua vontade, mas a pedido dos que queriam que eu tivesse uma vida normal, entrei para o liceu (secundário) público. Era o Liceu D. Filipa de Lencastre. Quando voltava vinha acompanhada de duas colegas até um ou dois blocos da minha casa. Só que a certa altura, as tres notamos que um homem de gabardine e chapéu nos seguia, mas eu nao disse nada a meu pai. Um dia, esse homem aproximou-se de mim e perguntou se eu sabia o que era “feijão branco”. Olhei para ele e disse: quem nao sabe? É para comer. Ele foi embora, mas ao chegar a casa chamei a minha madrasta no meu quarto e contei-lhe. Ela foi contar a meu pai e eu só ouvi um grito. Na semana seguinte fui internada no Dominican School of Bom Sucesso, de freiras dominicanas inglesas, o melhor colégio de Portugal. Umas delas fez-me “filha de Maria” e disse que uma das minhas obrigacoes era dizer pra ela, se la em casa havia algum livro de Lenine, Marx e companhia. E nao é que HAVIA??? Antes de dizer à freira contei à minha amiga Maria Guilhermina Guisado Cunhal Patricio. Família tambem muito abastada, mas consciente. Foi ela que salvou o meu pai de ir parar nas masmorras, dizendo-me para nao contar a ninguem. ISTO É POLITICA – e eu era uma crianca, tinha apenas 11 anos. Feijão branco era o nome dado a diamantes - na gíria dos traficantes. Claro que meu pai sabia disso, mas eu não e ele não era um deles. A PIDE, Gestapo portuguesa, queria pegá-lo e tentou tudo. Até que... o inconcebível aconteceu: ainda tenho as fotos do casamento do minha prima Gabriela, filha do meu tio Artur, onde eu dei as alianças. Tinha talvez 5 anos de idade. Ela casou com um juiz, Victor. Ele foi trabalhar em Angola. O meu tio Artur, seu sogro, era dono da maior parte dos prédios das artérias principais de Luanda. Mas assim mesmo, ninguém entendeu muito bem porque o Victor foi destacado para exercer numa “colonia”...

Depois de me internar o meu pai resolveu construir um edifício novo para o seu cassino. O que tinha até aí era uma parte de um hotel na cidade do Lobito. Por outro lado, ele sabia que já estava “marcado”, só que ninguém tinha provas concretas de que ele dava armas aos angolanos.


Foi quando o meu pai resolveu comprar milhares e milhares de escudos em jóias que a minha madrasta guardou. Lembro de ver o brilho de tanto diamante. Não tinham vindo de Angola, mas de uma ourivesaria de um amigo de meu pai, judeu, da rua Augusta em Lisboa. Depois disso transferiu toda a sua fortuna para Angola. Seria usada na construçao do novo Cassino. Ele tinha um empregado pessoal, angolano, a quem o meu pai deu liberdade, ou seja, patrocinou de maneira a que obtivesse o cartão de identidade, o qual um dia apareceu “suicidado”, mas tarde demais para soluções.

Logo em seguida, numa triste noite de agosto de 1959, vários homens vestidos a rigor, naquela altura era assim que se vestia para entrar num cassino, jogaram por um par de horas e de um momento para o outro acusaram o cassino de ter dados falsos. Eles estavam sob ordens do juiz de Luanda, o Victor, casado com a minha prima Gabriela, filha do meu tio Artur que com o meu pai e outros tres homens dava armas aos angolanos... Fecharam o cassino, bloquearam as contas do meu pai e colocaram-no num avião militar com a roupa que tinha no corpo. O meu pai perdeu tudo o que tinha, restava a nossa casa e as jóias. Não foi preso, talvez devido ao prestigio da família ou algum remorso do Victor. Em dezembro do mesmo ano o meu pai faleceu com apenas 45 anos devido a uma injecao de penicilina. Ele apenas tinha a garganta inflamada. Alergia foi a comunicacao oficial. Muitos pensavam que foi suicidio. E o improvável aconteceu: Quatro meses depois, o meu tio Artur tambem morria em Luanda - de ataque cardiaco. Eu tinha apenas 13 anos.

A minha vida política tinha começado... Já no colégio, onde fiquei por mais três anos, nunca perdia a oportunidade de mostrar a minha repulsa pelo governo, o que fazia com duas irmas da família Vegas. A minha maior amiga, Maria da Conceicao de Lemos Lepierre Tinoco, foi aconselhada a nao andar comigo, sem resultado, diga-se. Olhem bem o nome dela. Só - Tinoco = fundador do diario popular... o resto é química... Foi desde essa altura que me convenci de que política da oposição só pode ter uma base: conscientização dos povos. Com o andar dos anos aprendi que não podem haver direitos sem consciência, o que as duas guerras civis de Angola vieram a corroborar. Aprendi que a maior parte das massas são extremamente ignorantes. A primeira prova foi no dia seguinte à revolucao dos cravos quando vi uma manifestacao na Ave. da Liberdade com mais de 500 pessoas, a maior parte mulheres de aparência extremamente humilde e pobre, defendendo o maoismo. Num pais onde todos esses livros eram proibidos e muito poucos eramos os que tinham acesso a alguns exemplares... Foi aí tambem que vi o efeito da mente coletiva em toda a sua extensão. Mas os meus ideias eram intrinsecos e imensos...

Nos Estados Unidos fiz muita coisa, daquela maneira muito minha, bem simples e apagada, mas capaz de atingir o meu objetivo, ou seja, colocar minhoca na cabeça dos outros... Na California tinha uma posicao alta na United Way. Era eu quem recebia os cheques das doacoes e fazia 48 estratos bancarios, alem da supervisao de 40 pessoas. Quando em Atlanta trabalhei para a Timken Corporation, (Republicana e bushistíssima) todos me perguntavam porque eu nao doava para a United Way e sempre respondi bem objetivamente. De cada dolar, 75% vai para a administracao e só 25% para os pobres. Deveria ser o contrário. Com isto digo que o fato de pensar por mim mesma, me leva num pais como os Estados Unidos a ser considerada de esquerda e aqui no Brasil de direita. Tudo é relativo, porque não quero apenas mudar moscas... O meu sonho é uma Mudança Macro. Como diz o Al Corão, que estudei e por isso sei que os muçulmanos não o entendem, porque também nao o leem, “isto para quem tiver inteligência para entender”... várias surratas (equivalente de versículo na Bíblia).

Quando cheguei no Brasil em Março de 2004, rebentou o escandalo do mensalão... Sorri... lembrando uma frase do escritor Joseph Chilton Pearce, autor do livro The Crack of the Cosmic Egg, onde diz que devemos sair do mundo das células que vistas de perto se comem umas às outras, para olhar o organismo que elas formam.

Agora, para terminar, apenas uma notinha: não há nenhum pais no mundo em que a candidatura do partido já no poder (para dizer o mínimo) nao seja apoiada por uma ou mais instituiçoes da mídia, sendo uma delas uma estaçao de televisao e outra um jornal. Em França os principais sao o jornal Le Monde da esquerda - o meu favorito, e o Le Figaro da direita, alem do Aurore etc. Nos Estados Unidos a CNN é “liberal” democrata e a Fox news asquerosamente da direita. No Brasil é a Globo. Todavia, TODAS sao regidas pela mesma batuta – a Nova Ordem Mundial. A minha política é contra esses...

Em quem votar? No mais humano e inteligente. Se fosse OBRIGADA a votar nalgum dos candidatos à presidencia do Brasil, mas obrigada mesmo a colocar o voto na frente de um nome seria sem conviccao, na Marina. Triste, não? Porém, o mundo não deve acabar em 2012...

Não acredito em ignorantes no governo, seja ele qual for. Não acredito em dirigentes que apenas atuem de forma partidária. Acredito que o Brasil tem de ter uma grande reforma na educação, senão... as células continuarão a comer-se umas às outras e sendo aplaudidas...

Podem continuar o debate, mas eu saí. Saí mesmo. Contei aqui coisas extremamente pessoais, o que agora me obriga – logo que a minha madrasta saia deste planeta (pessoa que adoro) – a publicar a minha biografia.

Que o bom humor predomine...
Paz e sabedoria para todos
.
Amiga:

Não posso deixar de lhe mandar meu abraço pela sua contribuição vivenciada (por mais que questionada pelo tal "JB") no "debate"que acabou acontecendo nestas últimas horas.
Fico besta como as coisas se misturam e as paixões cegas tentam se impor.
É um horror pois não deixam de influenciar convivências...
Carinho para voces

Carmen (nota: Carmen é tia do Helder...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário