sexta-feira, 9 de março de 2012

Carta sobre bacalhau

Querido Flávio, bom dia.

Essa história da sua amiga portuguesa nao está lá essas coisas de bem contada nao.

Se os Fenícios conheciam o processo, isso nao implica que tivesse algo a ver com o chamado bacalhau, o que na realidade é o processo, não o nome do peixe - Cod, pois no Mediterraneo os peixes sao ultra diferentes. Agora, se os Fenícios chegaram aos mares do norte do Atlantico - bastante frios - é outra coisa. Isso sim, pois na América do Norte há inscricoes fenícias gravadas em pedra, o que prova que estiveram lá. No entanto, naquela época os barcos demoravam muito tempo a chegar a seus portos e os peixes apodreciam. O processo de salgar e deixar secar ao sol, usado em Portugal e Espanha é muito antigo, inclusivamente também usado com carne, como o faisão -- nos tempos antigos. Agora tem outros processos.
O lugar em Portugal onde esse processo é mais forte nao é no Porto nem em Lisboa, nem no Algarve. Eh na praia da Nazaré, que fica entre Lisboa e Porto. Um lugar lindíssimo, onde os meus pais alugavam casa no verao. Até tenho uma foto com minha mae e meus tios paternos, estando eu no berço - carrinho- coisa ultra moderna naquele tempo. A praia é muito extensa e a partr de um certo ponto estao as bancas ou mesas onde o bacalhau é processado, ou seja, salgado e colocado ao sol. O cheiro é simplesmente horrível. Mas nao chega aos balneários, nem à cidade lá em cima, onde está a capelinha da Senhora da Nazaré.
Os navios bacalhoeiros, assim se chamavam, agora nao sei, saem de Lisboa. Nessa manhã na Igreja do Bom Sucesso, colégio interno inglês - Dominican School of Bom Sucesso, onde fiz o secundário, dão uma missa para que eles tenham sorte e voltem vivos. Isso é uma tradição antiga, pois essa escola fica em um convento construido no século XVI ou pricípio do XVII, nao lembro bem. Era o palácio de uma condensa que antes das invasões napoleonicas duou a 15 freiras irlandesas, fugidas da Irlanda.
Além disso, o meu primo Jaques, filho da minha tia materna, era médico e especializado em lepra. A frota dos bacalhoeiros tinha o navio hospital. Ele trabalhava nesse navio seis meses por ano, o tempo da pesca. Por conta disso até se apaixonou por uma americana em Nova York. Mas a bruxa da minha tia conseguiu fazer com que ele fosse infeliz toda a vida e ele acabou por casar com uma portuguesa da Covilhã, onde vive até hoje. Ele contava que o pior de tudo era a gangrena. Os homens desciam em pequenos barcos e ficavam no frio e no nevoeiro, além da solidão, por horas a fio. Os pés adormeciam, assim como as mãos. Havia uma quota e eles queriam cumprir, pois ganhavam mais. Enfim, um absurdo, por isso o preço do bacalhau pode ser alto que eu entendo perfeitamente. Apesar de saber que quem mais ganha sao os distribuidores -- tal como no mundo dos livros...
Por sua causa dei uma volta ao passado. Foi bom. Muito bom. Lembrei de ver se o meu primo Jaques está no facebook.
Beijinhos aos dois,
Rosinha

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