quinta-feira, 31 de março de 2011

Carta de uma amiga digna de ser lida

Eu estou solidária com você. Possivelmente este grupo já teve melhores elementos, você deve ter pegado uma fase menos interessante. Isto acontece com todos os grupos. Como disse antes, é questão de sorte. Mediocridade existe e machuca. Não se pode fazer nada, a não ser afastar-nos desse clima enquanto for possível.
Reparei que no Brasil é muito mais importante manter o povo na ignorância do que o contrário. Vi isto pelas últimas duas novelas que assisti: Passione e Ti-ti-ti. Comecei a vê-las em SP e continuei aqui. É um vício, percebi isto também. Por mais mediocre e insultuosa que fossem à inteligência humana, me apeguei a elas e não as abandonei até o final. E vi o quanto elas colaboram para a mediocridade brasileira. Todos os crimes perpretados nessas duas novelas passaram em branco, sem prisão, sem punição alguma. Já aí está uma lição facilmente entendida pela bandidagem em geral. Houve cenas sexuais (na novela das sete da noite, quando crianças estão na sala) que se pode ver em filmes pornôs (Claudia Raia vestida com maiô de couro, com chicote na mão, 'gozando' as chicotadas que dava no idiota do costureiro ou desenhista, papelfeito pelo Alexandre Borges). Nas duas novelas, as vilãs eram mulheres. Ambas se resolveram muito bem - em Passione, a moça foi parar na Finlândia (se bem me lembro), onde imediatamente pegou um emprego de acompanhante de um paraplégico rico e logo começou a falar inglês; em Ti-ti-ti, a vilã botou uma peruca escura e fugiu de ônibus, levando consigo um rapazola, o mecânico que encontrou na oficina onde levou seu carro avariado na tentativa de matar uma mulher... (arsonista, tentou também matar a mesma moça umas duas ou três vezes). Enfim, o alcance das novelas da Globo é imensurável. Não sabemos - ou sabemos - o quanto influenciam a população. --- Em todo o tempo das novelas, nenhum personagem,nenhum! - chegou a dizer algo assim: Oba, estou lendo um romance de Machado de Assis (ou José de Alencar, ou quem quer que fosse da literatura brasileira), e acho um barato! - --- Seria no linguajar dos adolescentes, mas poderia infiltrar a idéia de que ler é bom, que até os autores considerados chatos podem ser lidos e entendidos. Ou poderiam incluir um autor bem menos 'chato', poderiam falar de Vinícius de Moraes como poeta, ou de Adélia Prado, ou de Cora Coralina, ou até Monteiro Lobato (agora tem sido massacrado porque personagem Dona Anastácia é negra)... Não, ninguém, ninguém nas novelas leu coisa nenhuma para dizer algo. Ninguém. Jovens e velhos. Ninguém foi apanhado lendo um livro. Quando muito, uma revista, com a capa bem exposta - deve ter pago um bom dinheiro para a propaganda.
Enfim, eu fico um pouco aborrecida quando estou em SP e vejo tanto talento jogado fora. Vejo também muita coisa errada ... ao comparar com os Estados UNidos. Se aqui conseguem fazer as coisas até um certo ponto de maneira estruturada, porque não o mesmo no Brasil? Um estudante uma vez me fez esta pergunta: Por que os brasileiros se organizam tão bem no carnaval e no resto do ano não conseguem? --- Pois é.
R

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